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Em 1985 eu morava no Rio Grande do Sul, em uma cidade chamada São Leopoldo. Depois de muito tempo insistindo com meus pais, ganhei meu primeiro violão e já estava tentando alguns acordes. Meu pai trabalhava em um banco, mas sua paixão sempre foi a música. Eu tinha crescido ouvindo histórias da sua época de músico. Algumas histórias muito engraçadas, algumas muito triste, mas todas me pareciam saídas de um filme ou romance. Se não fossem as fotos, seria difícil de acreditar que elas tivessem acontecido com meu pai, pois nessa época eu o conhecia muito pouco e ainda não o tinha descoberto de verdade. Me entendam bem, não é que eu não o conhecesse. É claro que eu o amava muito e conhecia meu pai: conhecia seu gosto por música de jazz, filmes e livros de espionagem. Era ele o único que conseguia entender as notícias de economia e política que apareciam todas as noites no noticiário. Nós jogávamos futebol de botão e xadrez e ele sempre se zangava quando eu "bagunçava" o jornal antes que ele lesse. Mas ainda havia muito mais.

Bem, em 85 ele começou a voltar a tocar depois de muito tempo parado. Havia se decidido profissionalmente pelo banco quando se casou com minha mãe e simplesmente parou de tocar. Nessa época foi retornando ao piano aos poucos: tocava em reuniões de amigos, em casa e finalmente foi chamado para um serviço em um piano bar em Novo Hamburgo, uma cidade vizinha. Acho que era uma sexta-feira. Eu, que já estava apaixonado pela música, e secretamente ouvia seus discos raros de jazz, com guitarristas de nomes estranhos como Lenny Breau, Kenny Burrel e Tal Farlow, resolvi acompanhá-lo.

Conversamos muito pouco no caminho ou pelo menos eu não me lembro muito de o termos feito, até porque meu pai é dessas pessoas que conseguem ficar um longo tempo em silêncio. O lugar era bem legal e estava vazio, mas eu pensei: deve ser cedo ainda. Meu pai pegou um refrigerante para mim e sentou-se no piano logo depois de comprimentar os garçons e o gerente trocando alguns comentários sobre futebol. Estava na penumbra. Sentei-me numa mesa mais afastada de onde podia ver seu rosto de perfil, olhando para o teclado do piano com se fosse um enigma. Jamais esquecerei aquele momento. Parecia que a música se materializava no ar, ganhava uma densidade... Enquanto ele tocava deste jeito tão especial, um pensamento tomou conta de mim: eu não conheçia meu pai realmente... Sabia muito pouco sobre seus sonhos, suas angústias, seus medos e suas esperanças. Seus silêncios. Ouvindo ele tocar, tive a certeza que nossa amizade estava apenas começando e que apesar de toda a minha admiração por ele, ainda havia muito o que ser conhecido, descoberto e amado.

Amar é sempre descobrir um "outro" que mora no outro. É recomeçar todos os dias as nossas amizades sabendo que nos conhecemos muito pouco e que há, em nossos irmãos, um tesouro muito maior do que imaginamos. É preciso sensibilidade, humildade e amor. Muito amor.

 

Augusto Cezar - DOM
tioguto@ig.com.br
Rio de Janeiro-RJ
  
  
 

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